23.5.16

Gosto de ti, e então?

No outro dia contei-vos o episódio de uma declaração de amor que recebi, e mostrei-vos o meu desagrado por ter vindo da pessoa errada. Hoje, apatece-me abrir o meu coração nesse aspecto amoroso. Como sabem, estou a viver uma fase delicada causada pela morte do meu Pai no último dia do ano que findou. Ainda não consegui engolir o facto de ter perdido a pessoa que eu mais amava neste Mundo, nem sei se algum dia vou conseguir fazê-lo na totalidade. Mas aos poucos vou-me erguendo. Mas também, muito mais fácil vou ao fundo. Encontro-me frágil. Eu, que sempre fui forte e bastante corajosa. Já se passaram quatro meses desde o pior dia da minha Vida e as minhas emoções continuam à flor da pele. Por exemplo, quase todos os dias, a caminho de casa após o trabalho, as lágrimas escorregam-me pela cara abaixo. Sinto tudo com maior intensidade e com maior clareza, sejam elas más ou boas. E no meio desta turbulência toda vivida, apercebi-me de que me estava a apaixonar. Um amigo reaproximou-se de mim, quando a nossa amizade nem sequer ON TOP * estava. Sem prever, e sem misturar sentimentos pelos acontecimentos (ou talvez tenha sido isso?). As borboletas apareceram assim, sem mais nem menos. A chama da paixão reascendeu em mim. Não sou pessoa de me apaixonar facilmente, demoro, literalmente, anos. Sou bastante realista e segura (o meu chefe sempre elogiou a minha auto-avaliação). No que toca a sentimentos sou bastante cuidadosa, não gosto de me meter em nada sem ter certezas. Detesto atrevimentos, detesto brincadeiras, detesto pressas. Gosto de perceber como é que as pessoas são, e hoje em dia, elas são muito egoístas, individualistas, mais descartáveis. Mas quando me apaixono verdadeiramente, entrego-me (quase) na totalidade. Mas lá está, primeiro preciso de me apaixonar completamente. Até lá posso gostar muito da pessoa, de ter um imenso carinho por ela, mas daí a sentir-me apaixonada vai uma longa distância. E essa distância aqui não existe. Nenhuma. Nunca senti nada tão claro como agora. É olhar para dentro de mim e ouvir, sentir, desejar. É de verdade. Do mais puro. O meu sentimento pelo F. (vou tratá-lo assim) moveu, mudou, cresceu, e fez questão de continuar dentro de mim. Quando eu gosto, gosto mesmo. Sou fiel a essa consciência íntima, e por isso, ela também não me sai assim facilmente, da noite para o dia. Não. Os seres humanos não são todos iguais. Ainda há quem viva de sentimentos sinceros. Tenho princípios e valores. Tenho valores morais e uma educação que veio de berço (mesmo tendo nascida em Braga e não em Guimarães ahahah). E conta-se pelos dedos de uma mão as vezes que eu até o dia de hoje proferi a palavra "amo-te". Ela é tão, mas tão banalizada. E só deve ser dita nas ocasiões onde o ambiente é de tal forma intenso que nos arranca a palavra das cordas vocais. Ou então, ter a certeza absoluta do que se sente, do que se diz. E eu aqui confesso, sem receios, gritava ao Mundo o quão gosto dele. Esperemos sempre muito das pessoas, especialmente quando gostamos. Esse é o nosso erro, exigir sentimentos que algumas pessoas não sentem. Infelizmente, não tenho a sorte imensa de sentir o mesmo do outro lado. Aos 29 anos, e pela primeira vez na Vida (há sempre uma primeira vez para tudo) “fui atrás” de alguém por amor e... levei uma tampa. Eu quero muito, ele não. Este não querer dele basta-me para eu me deixar estar. Tenho-o da forma que o posso ter. E já é bom. Ele não é meu. Não é fácil, de facto não o é, mas são precisas duas bases, a confiança e maturidade (em nós mesmos), para que tudo funcione e para que saibamos esperar que o tempo passe, sem medos, sem desânimo e com a serenidade necessária para saber que o gosto doce vai chegar. Eu não me fecho em copas. E vou lutar pelo meu bem-estar. Uma coisa que não preciso neste momento é de sofrer (mais ainda). Necessito de afectos, de ser acarinhada. Preciso que me façam feliz. Sem stresses. Viver um dia de cada vez. Em paz. Por mim. Aprendi a relativizar as coisas e deixei de fazer planos. O que tiver de ser será, o que tiver de vir virá.

* não ON TOP pelo simples facto de termos tido um passado, uma história não terminada, e longos meses sem nos falarmos, sem nos vermos, sem nunca nos termos apagado da memória um do outro (com confidências pelo meio)

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