1.8.11

"Era do Benfica mas fiquei magoado"

AB – Apesar de jovem, fará 24 anos em Setembro, tem já um percurso interessante no futebol...

Sílvio - Comecei no Benfica quando tinha seis anos, o meu pai, que tinha jogado nas camadas jovens do Belenenses e do Sporting, achava que eu tinha jeito e levava-me para os treinos.

AB - Tinha razão...

Sílvio - Fiquei no Benfica até ao segundo ano de juniores e ofereceram-me um contrato profissional. Era baixo, mas para mim, que não tinha dinheiro, já era muito. Mas achava que merecia mais, não o assinei porque não o melhoraram e, com 17 anos, tive de sair. 

AB - Ficou por Portugal?

Sílvio -
Decidi ir a uns treinos de captação no Chelsea. Foi uma boa experiência, pois nunca tinha saído de casa. Cresci como pessoa. A seguir fui para o Portsmouth e estive um mês com o Manuel Fernandes, que é meu amigo, mas acabei por não ficar. Regressei a Portugal e como já era tarde a única opção foi jogar na terceira divisão, fui parar ao Atlético do Cacém. Daí passei para o Odivelas, onde fiz uma grande temporada. Fomos a Vila do Conde jogar para a Taça, gostaram de mim e no ano seguinte estava no Rio Ave. Fui feliz lá, gostei do clube, das pessoas e da cidade, mas ao fim de dois anos transferi-me para o Braga, onde fiz uma temporada de sonho, a melhor da minha carreira.

AB - Sei que passou por um mau bocado...

Sílvio -
É verdade. No meio de tudo, com 12 anos, aconteceu-me a coisa mais triste da minha vida: a morte do meu pai enquanto ele assistia a um dos meus treinos. Custou-me imenso, a mim e à minha família... Ficar sem o homem da casa não é fácil para ninguém e muito menos para crianças. Vimo-nos obrigados a crescer muito mais depressa. Fomos buscar forças onde não as havia, mas todos nos unimos e com grande ajuda do meu tio, que foi o segundo pai, conseguimos ultrapassar tudo. Todos os dias penso no meu pai e só lhe peço que me dê forças para continuar a fazer com que ele se orgulhe de mim.

AB -
Foi o Braga quem mais ganhou consigo...

Sílvio -
Pois foi. Comprou-me por tostões e vendeu-me por milhões. Fez um bom negócio, eu contribuí com o meu trabalho, mas o Braga também me deu a oportunidade de me tornar conhecido graças a um ano que ninguém esperava. Nunca pensei que jogaria a um nível tão alto na Champions e na Liga Europa e que chegaríamos à final. E foi graças a esses jogos europeus que agora estou aqui.

AB - Quando surgiu o interesse do Atlético de Madrid?

Sílvio -
Em Janeiro já se falava que no final da época poderia ser transferido. Não acreditava muito porque nunca pensei que um clube como este pudesse estar interessado em mim. Se até então me sentia motivado, depois de saber disso mais fiquei. Trabalhei para melhorar e fazer com que o que era apenas uma hipótese se tornasse realidade. Foi o maior salto da minha carreira, assinei por cinco anos e espero cumpri-los dando o melhor a este clube.

AB - Gostaria de voltar um dia ao Benfica?

Sílvio
- Gosto do símbolo do Benfica e do que representa para os seus adeptos, mas não aprecio nada a sua forma de trabalhar. Não aposta nos jovens, não creio que seja um bom clube nesse aspecto, em que até o FC Porto e o Sporting são melhores. O Benfica sempre foi o meu clube, formou-me, passei lá grandes momentos e o pior da minha vida, mas esse sentimento foi-se apagando. Já não é o clube do futebol português que eu apoio, sou do Braga. Quero que ganhe tudo o que puder. E o mesmo desejo para o Rio Ave. Está à vista que o Benfica não aposta nos jovens. Há lá três ou quatro miúdos muito bons mas é tudo para ir embora. Não me entra na cabeça como é que, havendo tantos bons jogadores que saem da formação, nenhum é aproveitado. São todos emprestados e acabam na terceira divisão, como me aconteceu a mim. Muitos deles têm força para se levantarem, eu tive, graças a Deus.

entrevista @ A Bola

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